domingo, 24 de abril de 2011

A Alma Humana

O que é necessário pra se conhecer pessoas? 
Não, gente... não estou falando de entrar em contato com outros indivíduos não! Isso é fácil e provavelmente a maioria dos seres humanos com mais de 5 anos, sabe fazer isso. Estou me referindo a perceber alguém, a enxergar sua alma, a ver e reconhecer seu funcionamento, atitudes e gestos, entender de verdade o outro. Pra isso é necessário muita sensibilidade, experiência e observação, e acima de tudo, é necessário gostar de gente.
É claro que existem fatores que turvam nossa visão e a paixão é talvez, o pior deles. 
Todo mundo conhece a expressão que diz que o amor é cego. Eu me atrevo a corrigir isso... acredito que a paixão cega as pessoas e o amor, como se baseia na aceitação do outro, nos dá a possibilidade de ver ou não esse outro. E isso vai depender da vivência e da maturidade emocional dos indivíduos em questão.
Imaginem Romeu e Julieta como quarentões vividos e emocionalmente amadurecidos, que no decorrer da vida tiveram experiências com relacionamentos, viveram seus começos e fins, a convivência diária, passaram por traições e sufocaram decepções... alguém aí acredita que eles teriam morrido de amor como na versão de Shakespeare? Não, né? 
E não estou aqui, querendo destruir nenhum sonho adolescente romântico, porém me desculpem... quanto mais penso nisso, mais eu me lembro de uma frase que eu ouvia minha mãe dizer: "Ah, seu eu tivesse a sua idade (quando eu tinha 18 anos) e a minha experiência!". 
E quem achar que eu estou exagerando, eu convido a dar uma passadinha de olhos nas postagens da galera de 20 anos, nas redes de relacionamento. Talvez por eles começarem mais cedo do que a minha geração, já tenham uma visão diferente da que eu tinha, nessa idade. E é claro que eu estou me referindo a pessoas emocionalmente saudáveis e que amadureceram graças ao aprendizado adquirido através de experiências, isso pode ocorrer aos 20 e poucos anos, mais tarde, ou nunca. Assim como existem jovens profundamente sábios e maduros, também tem um monte de cinquentões que sofrem de retardo emocional e negação de aprendizagem.
"Romeu e Julieta" é a história de amor linda que é, porque os protagonistas são adolescentes... jovens... crianças até! Carregam a pureza de um coração sem marcas. Estão começando a construir sua história de vida. 
O meu coração está tão marcado que mais parece um mapa hidrográfico, não dá pra alguém me pedir pra acreditar em amor até que a morte nos separe, PELAMORDEDEUS! Eu acredito em amor até que a vida (ou não) nos separe. E não falo isso com amargura não! Digo isso com a convicção e a certeza das diretrizes que eu fui acumulando pela vida, que me fazem ser o que sou e das quais me orgulho muito. Afinal, essas experiências e até as cicatrizes resultantes delas, são marcas de sobrevivência. São sinais de tudo o que eu vivi, do que acertei e errei, de tudo o que eu lutei, ganhando e perdendo, de todas as minhas tentativas e o que pra mim, é o mais importante... essas tatuagens, iguais a todas as que eu trago no corpo, tem um significado, e no caso das da alma, a principal tradução é de não ter desistido nunca.      
Ainda falando em paixão (e aqui eu me refiro a todos os tipos de paixões: as românticas, as de causas sociais, as religiosas, as políticas e até as esportivas). Será que existe a possibilidade de se apaixonar, sem ficar cego? De se voltar intensamente para o objeto do desejo, mas ainda ser capaz de ver seus defeitos, suas falhas, de saber ou pelo menos tentar agir de forma mais sensata e menos impulsiva? Acredito que isso também esteja relacionado à maturidade. E quando olho pra minha filha e já percebo nela uma propensão a trilhar o caminho da paixão, acho que tenho as mesmas reações que meus pais tiveram em relação a mim. Porém eu sei, por experiência própria (e por mais que isso me custe) que ela precisará experimentar as dores e as delícias desse trajeto e aprender sozinha (bom... sozinha não vai... é claro que eu vou dar conselhos, e repetí-los 345 vezes, mas o que eu quis dizer, é que no final ela terá de viver, pra descobrir...).
Agora, voltando à possibilidade de conhecimento da alma humana. 
É fantástico observar pessoas, ver seus comportamentos e ações, prever atos futuros, através do entendimento de movimentos passados. E aí, vocês provavelmente vão pensar que as pessoas, algumas vezes nos surpreendem. Eu me arrisco a acreditar que isso só acontece quando não estamos atentos o suficiente, ou quando não as conhecemos verdadeiramente ainda. Afinal, se um indivíduo muda, isso não vai acontecer do dia pra noite. Suas atitudes irão se modificando no decorrer de um tempo e isso ocorrerá em todos os sentidos e direções, e não apenas no que for seu interesse demonstrar, certo?
Embora tenha perdido a pureza das crianças, eu continuo a acreditar nas pessoas, em suas possibilidades e potenciais. O que mudou é que atualmente tenho feito isso de olhos bem abertos, observando bastante, refletindo e pesando as possibilidades que se apresentam. 
Aprendi que a busca por auto-conhecimento, não é um caminho fácil... encontramos obstáculos em forma de medo, angústias e surpresas, porém essa porta, uma vez aberta, dificilmente será fechada. Porque é como se uma cortina, que está em frente aos nossos olhos por muito tempo, tivesse sido retirada e víssemos tudo muito mais claro.
Nem a vida poderá ser filtrada de novo, nem nós poderemos nos esconder dela novamente...







sábado, 16 de abril de 2011

Questões éticas estão sujeitas à moda?

De vez em quando me deparo com umas situações que me fazem rever a vida, minhas crenças e princípios. Bom... talvez, não rever no sentido de sair mudando, até porque acredito ser muito difícil mudar* (de verdade mesmo) algo que está encravado em nós, mas rever no sentido de atualizar.
* Senti necessidade de acrescentar uma nota aqui: Não é que não seja possível uma mudança verdadeira em alguém que vem tendo um conjunto de atitudes por muito tempo, é que me parece que as reais mudanças acontecem pelas necessidades que uma pessoa encontra. Assim acho que pode até haver mudança, mas pra isso, a água precisa bater no bumbum, como se diz por aí.
Então, fazendo a tal atualização dei de cara com alguns princípios e formas de funcionar que parecem estar fora de moda, no mundo atual. Por isso pensei que quando se passa muito tempo empenhando-se em ser correta e tentando fazer o certo e o politicamente esperado, fica complicado ver alguém se dando bem, na base do "eu posso, então faço", ou tirando vantagem de situações difíceis do outro, ou mesmo passando por cima desse outro pra conseguir o que quer.
Durante o show do U2, nessa última quarta-feira, vi o Bono dizer que se conhece a grandeza de uma nação, pela maneira como esse país trata os mais necessitados, carentes e pobres. Fiquei pensando que isso é muito verdade, e vale ainda mais no que concerne à pessoas. A grandeza de alguém reside no modo como essa pessoa trata quem se encontra abaixo dela em hierarquia, os subalternos, os funcionários, os menos privilegiados, as minorias, os mais novos... e vou mais longe, a grandeza de alguém se mede em como ela lida com o poder. Frente a frente, todos tratarão bem alguém que tenha repercussão, fama e poder, agora quantos são gentis com o porteiro do condomínio, com o caixa do banco? Quantos se sensibilizam com o problema da funcionária que trabalha em sua casa? Quantas pessoas são capazes de realmente ENXERGAR o outro, independente do tamanho da sua conta bancária, ou do negócio lucrativo que ele possa oferecer ou até mesmo da utilidade que ele tenha num determinado momento?
Alguns vão dizer que são questões de ética, e que a ética é algo muito relativo às sociedades e ao tempo delas. E é verdade, mesmo. São tantas as questões éticas, são tantos atributos e atribuições dessas questões, que eu ficaria aqui pra sempre e ainda assim teria muito a dizer e a aprender.
Agora, eu aprendi por exemplo, que mentir é errado. E podem ficar tranquilos que não vou ser hipócrita e dizer que nunca menti ou vou mentir (afinal estou falando de ética e ser coerente é o mínimo, né não?). Todos nós mentimos socialmente. Não dá pra chegar pra aquela amiga querida e dizer que o cabelo dela está deprimente, depois que ela tentou copiar a cor da Julia Roberts, e acabou ficando parecida com a Madame Min. Então, se ela te pergunta se ficou bacana, você provavelmente dirá pra ela fazer um shampoo tinto, só pra dar uma tonalizada (isso, se a amiga for MUITO amiga mesmo), mas nunca que ela está parecendo a bruxa dos quadrinhos da Disney. Isso também tem a ver com caridade, consideração e por aí vai...
Agora... mentir pra se dar bem, pra tirar vantagem de algo, mentir com prejuízo do outro, isso eu aprendi que é errado. Aliás, MUITO errado! E eu já tive umas experiências com mentira, que só de lembrar me causam enjoo e mal-estar físico... Já tive gente que mentiu na minha frente, sabia que eu sabia ser mentira e me pediu pra confirmar; já tive gente que falou coisas sérias e na hora de ser confrontada, desmentiu, dizendo que nunca havia falado; já tive gente que inventou coisas sobre mim ou a minha vida; já tive gente que se aproveitou da minha ingenuidade pra mentir deslavadamente... enfim, tive muitas experiências com mentira e mentirosos, e adquiri conhecimento nesse tipo de mecanismo. Tanto conhecimento, que um dia vou escrever aqui um "compêndio" sobre mentira e sobre a minha teoria de que a mentira pode ser, em alguns casos, uma doença hereditária ou numa linguagem mais adequada e menos figurada, herdada por modelo... mas isso vai ficar pra uma outra ocasião. 
Hoje eu estou tratando de comportamentos não éticos que parecem invadir a sociedade atual... ou será que sempre foi assim? Ou será que é uma característica mais pungente na minha geração, graças à famosa Lei de Gérson? (Expressão que surgiu graças a uma propaganda infeliz em que o jogador campeão da Copa de 1970, dizia que fumava determinada marca de cigarros porque gostava de levar vantagem em tudo - Essa afirmação acabou virando sinônimo de ser malandro, de se dar bem, de ser desonesto sem que isso seja um problema). 
Na verdade, acho que falta de ética existirá enquanto houverem sociedades e como o homem é um ser social, está nas mãos de cada um repensar suas atitudes e posturas.
Mas nunca deixo de me abismar quando vejo pessoas agindo em seu próprio interesse, sem se importar com o próximo. Juro que dá vontade de perguntar: Você gosta  de ser maltratado, de ser explorado, de ser injustiçado? Acho que não... então não faça isso. Você gosta de ser enganado? Dificilmente, certo? Então não engane... não tenha esse comportamento. Se não for por ética, não o faça por entender que existe uma outra lei (e essa não foi construída pela malandragem), a Lei do Retorno. Se você engana ou enganou alguém, fique de olho porque cedo ou tarde também será enganado. Se você maltrata, explora ou comete atos injustos, em algum momento alguém fará o mesmo a você. E não tem nada a ver com crenças religiosas não! Tem a ver com seres humanos, aprendizados e trocas.
Por mais que eu saiba que não viram celebridades (na maioria das vezes em nossa sociedade) - e portanto não são merecedores de notoriedade - todas as pessoas que fazem o bem, ou que escrevem livros, ou que se dedicam a apoiar causas necessárias, ou que ensinam (haja vista a desvalorização e os salários lamentáveis dos nossos professores), ou que pesquisam e encontram curas de doenças... E sim que os renomados da atualidade recebem méritos por ter participado do último reality show, ou por ter posado pra determinada revista, ou por ter se saído bem em alguma maracutaia, ou ainda por ter casado, dormido, ficado, saído ou traído algum famoso do momento... Por mais que eu viva e entenda que o que está aí é isso mesmo, e que eu provavelmente serei apontada como a eterna crente num mundo melhor, enquanto a maioria da torcida acredita no cada um por si, mesmo assim eu seguirei valorizando a ética e o caráter, abominando os "Gérsons" de plantão e morrendo de vergonha e indignação por quem acredita que passar a perna no outro é sinônimo de poder. 
Por mais que eu possa atualizar meus princípios, tenho certeza de que mais fortes e arraigados eles permanecerão, até porque o que é correto e bom sempre vira um clássico e clássicos nunca saem de moda!


Deixo aqui a minha gratidão aos meus primeiros professores de ética na vida: Odete Regina Moreira Vasconcellos e Claudio Vasconcellos, e à minha professora e orientadora de ética na profissão: Fabiana Maiorino. Me acredito uma pessoa melhor também por vocês.

domingo, 10 de abril de 2011

Amor e seus Contrários

No texto "O Contrário do Amor" de Martha Medeiros, ela diz que aprendemos quando crianças que o contrário do amor é o ódio, porém quando somos adultos entendemos que o oposto do amor é a indiferença. Segundo ela, para odiarmos alguém é necessário que reconheçamos o outro, a sua existência, situação que não ocorre no caso de sermos indiferentes a esse alguém. Ela diz que quando amamos uma pessoa e passamos a odiá-la, gastamos uma energia específica nesse movimento, pois afinal ninguém que é indiferente ao outro, projeta nele qualquer sentimento, emoção ou até mesmo ação. Assim, para odiar necessitamos de um objeto que anteriormente foi objeto de nosso amor, o que significa que idealmente, o fim do amor seria a total indiferença e não o ódio. (Claro que também existe o ódio que já nasce ódio mesmo, mas estou escrevendo primariamente sobre amor e não sobre ódio, então vamos deixar isso de lado). 

Fiquei me perguntando se as coisas são assim tão simples. Preciso dizer aqui, que nessas questões de amor, ódio, indiferença, e outras tantas emoções que somos colocados em contato quando nos relacionamos, e por se tratar de indivíduos (seres únicos e completamente diferenciados de quaisquer outros), acredito que tudo fique bem mais complexo.
Refletindo a respeito, já dei de cara com algumas perguntas que vou tentar esclarecer pra mim mesma, enquanto escrevo.
Pra começar, existem diferentes tipos e intensidades de amor... e eu sei bem sobre isso porque como boa canceriana, sou alguém que ama muito. Eu amo as pessoas. Simplesmente não consigo me relacionar com alguém importante em minha vida, sem ser através do amor. Costumo dizer que gostar, eu gosto de sorvete (e eu realmente gosto muito de sorvete)... porém em se tratando de pessoas especiais eu me relaciono pelo amor. Mas até isso é controverso, porque tenho que admitir que conheço muita gente que me faz pensar em começar a gostar de dobradinha com bastante coentro (não aguento nem o cheiro disso)...

Então, pensando sobre amor... 
Posso garantir que o maior amor da minha vida é e sempre será pelo meus filhos. Por eles eu faço qualquer coisa, me submeto a situações inimagináveis, entrego minha vida se for necessário. 
Esse amor é visceral em mim e é tão grande que me faz saber, nas profundezas do meu ser, que eles seriam meus filhos independente de qualquer circunstância. Bryan, Kevin, Stephanie e eu, nos escolhemos várias vezes, em muitas vidas e provavelmente de muitas formas, mas eles estavam, estão e estarão na minha vida pela eternidade e nada mudará isso. Nesse amor não tem lugar pra emoções ruins por muito tempo, simplesmente porque eu jamais sobreviveria sem meu coração.
Existe em mim, o amor pelos meus pais, irmãos (os cunhados são irmãos que a vida me deu de presente), sobrinhos e família (avô e tiomelhoramigo que já foram pro andar de cima, e tios e primos que mesmo não estando no meu dia a dia, são pessoas deliciosas)... esse amor é de um tipo diferente. Essas pessoas (e as continuações delas) são a minha matriz, fazem parte do meu eu, das minhas primeiras construções, da formação da minha identidade... e por mais que existam discordâncias, elas não mudarão o amor, porque quando se nasce em uma família como a minha, o amor e a união se instalam dentro da gente de tal maneira, que se entrelaçam com órgãos vitais. 
Existe também, o amor pelos meus amigos... essas pessoas são criaturas que eu escolhi no decorrer da vida e são importantes justamente por terem sido escolhidas. 
Pra mim, não existem imposições na amizade verdadeira, e acredito que esse seja o motivo de eu ter amigos de um milhão de anos e outros que apesar de não terem todo esse tempo, são como se fizessem parte da minha vida inteira.

Sei que muitos devem estar pensando que a Martha se referiu ao amor romântico, e não a esses descritos acima, mas esclareço que quando li o texto dela, pensei não só no amor romântico, mas também em todos esses outros (ok... concordo que talvez tenha feito isso pela minha maneira de funcionar). 
Mas, e o ódio? Ódio pra mim é algo muito forte e destrutivo, assim como a inveja. Confesso que inveja eu já senti, mas é um sentimento que não existe mais pra mim. Se eu gosto de alguém e essa pessoa conquista algo, eu fico extremamente feliz por ela. E isso acontece, porque se a pessoa tem importância, o que a faz feliz, me deixa feliz também. E se a pessoa não tem importância? Bom... aí, melhor pra ela, o que quer que seja. Isso não me pertence, simples assim. Pode até dar aquela vontadinha de estar no lugar do outro, mas junto com a vontade, vem a certeza de que pra mim só o lugar em que eu me encontro, me interessa. Não por egoísmo e sim por auto reconhecimento de tudo o que eu já passei pra chegar onde estou e por valorizar muito isso.
Agora, voltando ao ódio... não sei o que é isso. Acho que nunca conheci o que é odiar alguém. Sei o que é raiva, decepção, o amargo no coração de se enganar e/ou ser enganada e até indiferença, mas ódio... ódio não.

Nas questões amorosas, eu tenho uma característica particular que é o fato de precisar admirar alguém pra me apaixonar e seguir amando. Se o objeto do meu amor, for destruído por alguma decepção, se eu não conseguir admirar mais nada nessa pessoa, é o começo do fim. 
Lógico que na minha imaturidade, eu construi imagens idealizadas e fiz muita loucura pelo que as pessoas costumam chamar de amor, mas o tempo e a vida se encarregaram de mostrar a realidade, e hoje, é como se lá atrás, eu tivesse uma cortina diante dos olhos... uma vez que a cortina caiu, não tenho outra alternativa, a não ser enxergar. E pra mim, quando isso (de passar a enxergar) ocorre, o amor pode virar indiferença, não aquela que faz com que a pessoa deixe de existir (acredito que a energia empregada em fazer alguém desaparecer, talvez seja maior do que o ódio), a pessoa passa a não me interessar mais. Isso já aconteceu com amores e amizades também.
Assim, acho que podemos até ser indiferentes a alguém, alguns podem transformar amor em ódio, mas existem outros sentimentos e até várias nuances desses sentimentos numa relação, nada é tão dicotômico.

As questões que envolvem amor e pessoas são tão fortes, grandiosas e profundas que podemos até tentar definir em palavras, mas sabemos que o entendimento só virá através do sentir. Ou se sente ou não. E eu posso garantir, com conhecimento de causa, que nada é tão poderoso quanto esse sentimento quando ele é real e verdadeiro... Só sabe mesmo quem sente. 


Deixo aqui o meu amor imenso pelo meu filho Bryan, que hoje faz 23 anos e foi a minha primeira verdadeira e absoluta experiência de amor e também pelo meu irmão... (eu pensei nele durante o tempo inteiro que escrevi esse texto). 

sábado, 2 de abril de 2011

Queixo duro

Quando se pergunta a alguém sobre um período marcante de sua vida, normalmente a resposta é a infância. Isso ocorre provavelmente, porque a infância é o lugar da exploração, das descobertas, a infância na maioria das vezes e em condições ideais, é um tempo mágico na vida das pessoas.
Eu tive uma infância feliz e muito parecida com a infância da maioria das meninas da minha época. Meus pais foram os pais mais amorosos, dedicados e cuidadosos do Universo, assim como os mais rigorosos também. Eu me lembro que no meu tempo de criança, era comum os pais castigarem os filhos com surras, mas meus irmãos e eu nunca apanhamos. No máximo ficávamos de castigo ou recebíamos umas palmadas de minha mãe quando passávamos muito da conta e aprontávamos alguma. Meu pai não nos deu sequer uma palmada... nunca. Ele tinha um olhar 43 que passava todo o descontentamento, e por mais que não soubéssemos o porquê dele estar bravo, tínhamos certeza de que alguma nós tínhamos feito. 
Como a rigidez da educação e os princípios de moral eram uma constante em nossas vidas, eu cresci seguindo as normas e me comportando conforme o esperado. Porém, segundo meus pais, a pressa de ser gente grande foi uma característica minha desde sempre.
Na adolescência, eu me percebi como uma pessoa, um ser no mundo, e não como uma extensão de meus pais, porém, independente das minhas opções e mesmo tendo uma personalidade propícia, eu não tive muita escolha, meu pai foi um homem muito forte e minha mãe é uma das pessoas mais fortes que existem, assim desconfio que ali foi anunciada a "maldição" da bruxa malévola no reino dos Vasconcellos: Eu seria forte!  
Na adolescência eu também descobri que embora existam regras, normas e limites, tudo isso dependendo da situação e da aplicação pode ser questionado, e muitas vezes, deve ser explicado. Assim, eu entendi que por exemplo, caráter e regrinhas básicas como: nunca fazer ao outro o que eu não gostaria de receber e ajudar sempre que possível e na impossibilidade de ajudar, nunca atrapalhar - não eram regras flexíveis, e sim modelos a serem seguidos. Porém, o porquê da melhor amiga poder chegar da festa às 3 da manhã e eu ter que  voltar pra casa à meia noite, pois caso contrário, viraria abóbora, bom... isso poderia ser questionado.   
Foi o meu período mágico! Foi quando eu soube que poderia usar todos os exemplos maravilhosos e fortes dos meus pais, a conduta e os princípios deles e tentar construir (aos trancos e barrancos, como todo aprendiz) o meu jeito de ser, minha maneira de pensar, o início da minha identidade. 
Só que eu sempre fui queixo duro, muito questionadora e teimosa, nunca me contentei com o estabelecido e por tudo isso, protagonizei brigas homéricas com meu pai (que também era tudo isso, queixo duro, questionador e teimoso), discussões que invadiam a madrugada, debates acirrados que cansavam e davam preguiça no resto da família (Que saudade dessa época... Que saudade do meu pai!!!).
Na época dessas "batalhas", por mais que ele me amasse (e eu tinha certeza  do amor imenso e incondicional), eu pra ele era uma garota rebelde e atrevida, aliás atrevida só não... ele me chamava de "atrevidassa"... e pra mim, ele que sempre seria o meu herói, era um pai autoritário e inflexível.
Eu precisei crescer e virar gente de verdade, pra entender que o encontro do autoritarismo e a inflexibilidade dele pra essas questões de limites negociáveis, e a minha personalidade atrevida e rebelde, me fizeram construir o modo ideal de relacionamento com os meus filhos, me ensinaram a brigar pelo que eu acredito injusto ou incorreto, a batalhar pelas minhas crenças, a formar o muito do que eu sou hoje... e deixaram a "maldição" da bruxa malévola mais forte.
Com o tempo, as nossas "batalhas" se transformaram em conversas deliciosas e intermináveis (que também davam preguiça e cansavam o resto da família), em momentos que só nós dois sabíamos o quanto eram preciosos (minha mãe também entendia, mulher sábia e perspicaz que é). 
Com o tempo, eu quando olhava pra ele, só conseguia enxergar o meu herói, o homem mais íntegro, mais protetor e mais amoroso que existiu. 
Com o tempo, o queixo duro e a teimosia herdados do meu pai viraram uma marca minha. 
Com o tempo, aquela garota "atrevidassa" e rebelde foi ficando resistente, foi desafiando as circunstâncias difíceis, foi caindo e levantando, foi seguindo em frente apesar dos pesares... foi transformando a "maldição" da bruxa malévola em benção... e como Che, endureceu sem perder a ternura.
E com o tempo, SEDEUSQUISEREELEHÁDEQUERER, a atitude (atrevida??) da garota vai deixar de incomodar tanto alguns... porque com o tempo, essas pessoas vão entender que essa garota não está preocupada em agradar a todos (ela descobriu que isso é impossível), e nem em se desculpar pelo que é e o que pensa, tampouco em passar o resto da vida numa queda de braço eterna (só de pensar deu preguiça na garota). Ela não quer e nem precisa provar nada a ninguém, ela só quer ser feliz, estar em paz, trabalhar e seguir a vida, porém ela sabe o que conquistou e o trabalho que teve e não vai abrir mão de ser quem é.
(Preciso deixar claro que não suporto narrativas em terceira pessoa... as acho chatas, arrogantes e prepotentes, na maioria das vezes, e peço desculpas a todos vocês pelos dois últimos parágrafos acima, mas acreditem... foi necessário). 
E só pra esclarecer, caso tenha ficado alguma dúvida, e também pra tirar esse ranço de terceira pessoa, a tal garota atrevida SOU EU.


"I read somewhere... how important it is in life not necessarily to be strong... but to feel strong." - Alexander Supertramp (Chris McCandless)


"Eu li em algum lugar... como é importante na vida não necessariamente ser forte... mas se sentir forte."


Pra finalizar, vou pegar emprestado um texto da Tati Bernardi... me achei nessa definição.
   
"Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje. Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina… E vice versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar. Não me doo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil… e choro também!"