sábado, 2 de abril de 2011

Queixo duro

Quando se pergunta a alguém sobre um período marcante de sua vida, normalmente a resposta é a infância. Isso ocorre provavelmente, porque a infância é o lugar da exploração, das descobertas, a infância na maioria das vezes e em condições ideais, é um tempo mágico na vida das pessoas.
Eu tive uma infância feliz e muito parecida com a infância da maioria das meninas da minha época. Meus pais foram os pais mais amorosos, dedicados e cuidadosos do Universo, assim como os mais rigorosos também. Eu me lembro que no meu tempo de criança, era comum os pais castigarem os filhos com surras, mas meus irmãos e eu nunca apanhamos. No máximo ficávamos de castigo ou recebíamos umas palmadas de minha mãe quando passávamos muito da conta e aprontávamos alguma. Meu pai não nos deu sequer uma palmada... nunca. Ele tinha um olhar 43 que passava todo o descontentamento, e por mais que não soubéssemos o porquê dele estar bravo, tínhamos certeza de que alguma nós tínhamos feito. 
Como a rigidez da educação e os princípios de moral eram uma constante em nossas vidas, eu cresci seguindo as normas e me comportando conforme o esperado. Porém, segundo meus pais, a pressa de ser gente grande foi uma característica minha desde sempre.
Na adolescência, eu me percebi como uma pessoa, um ser no mundo, e não como uma extensão de meus pais, porém, independente das minhas opções e mesmo tendo uma personalidade propícia, eu não tive muita escolha, meu pai foi um homem muito forte e minha mãe é uma das pessoas mais fortes que existem, assim desconfio que ali foi anunciada a "maldição" da bruxa malévola no reino dos Vasconcellos: Eu seria forte!  
Na adolescência eu também descobri que embora existam regras, normas e limites, tudo isso dependendo da situação e da aplicação pode ser questionado, e muitas vezes, deve ser explicado. Assim, eu entendi que por exemplo, caráter e regrinhas básicas como: nunca fazer ao outro o que eu não gostaria de receber e ajudar sempre que possível e na impossibilidade de ajudar, nunca atrapalhar - não eram regras flexíveis, e sim modelos a serem seguidos. Porém, o porquê da melhor amiga poder chegar da festa às 3 da manhã e eu ter que  voltar pra casa à meia noite, pois caso contrário, viraria abóbora, bom... isso poderia ser questionado.   
Foi o meu período mágico! Foi quando eu soube que poderia usar todos os exemplos maravilhosos e fortes dos meus pais, a conduta e os princípios deles e tentar construir (aos trancos e barrancos, como todo aprendiz) o meu jeito de ser, minha maneira de pensar, o início da minha identidade. 
Só que eu sempre fui queixo duro, muito questionadora e teimosa, nunca me contentei com o estabelecido e por tudo isso, protagonizei brigas homéricas com meu pai (que também era tudo isso, queixo duro, questionador e teimoso), discussões que invadiam a madrugada, debates acirrados que cansavam e davam preguiça no resto da família (Que saudade dessa época... Que saudade do meu pai!!!).
Na época dessas "batalhas", por mais que ele me amasse (e eu tinha certeza  do amor imenso e incondicional), eu pra ele era uma garota rebelde e atrevida, aliás atrevida só não... ele me chamava de "atrevidassa"... e pra mim, ele que sempre seria o meu herói, era um pai autoritário e inflexível.
Eu precisei crescer e virar gente de verdade, pra entender que o encontro do autoritarismo e a inflexibilidade dele pra essas questões de limites negociáveis, e a minha personalidade atrevida e rebelde, me fizeram construir o modo ideal de relacionamento com os meus filhos, me ensinaram a brigar pelo que eu acredito injusto ou incorreto, a batalhar pelas minhas crenças, a formar o muito do que eu sou hoje... e deixaram a "maldição" da bruxa malévola mais forte.
Com o tempo, as nossas "batalhas" se transformaram em conversas deliciosas e intermináveis (que também davam preguiça e cansavam o resto da família), em momentos que só nós dois sabíamos o quanto eram preciosos (minha mãe também entendia, mulher sábia e perspicaz que é). 
Com o tempo, eu quando olhava pra ele, só conseguia enxergar o meu herói, o homem mais íntegro, mais protetor e mais amoroso que existiu. 
Com o tempo, o queixo duro e a teimosia herdados do meu pai viraram uma marca minha. 
Com o tempo, aquela garota "atrevidassa" e rebelde foi ficando resistente, foi desafiando as circunstâncias difíceis, foi caindo e levantando, foi seguindo em frente apesar dos pesares... foi transformando a "maldição" da bruxa malévola em benção... e como Che, endureceu sem perder a ternura.
E com o tempo, SEDEUSQUISEREELEHÁDEQUERER, a atitude (atrevida??) da garota vai deixar de incomodar tanto alguns... porque com o tempo, essas pessoas vão entender que essa garota não está preocupada em agradar a todos (ela descobriu que isso é impossível), e nem em se desculpar pelo que é e o que pensa, tampouco em passar o resto da vida numa queda de braço eterna (só de pensar deu preguiça na garota). Ela não quer e nem precisa provar nada a ninguém, ela só quer ser feliz, estar em paz, trabalhar e seguir a vida, porém ela sabe o que conquistou e o trabalho que teve e não vai abrir mão de ser quem é.
(Preciso deixar claro que não suporto narrativas em terceira pessoa... as acho chatas, arrogantes e prepotentes, na maioria das vezes, e peço desculpas a todos vocês pelos dois últimos parágrafos acima, mas acreditem... foi necessário). 
E só pra esclarecer, caso tenha ficado alguma dúvida, e também pra tirar esse ranço de terceira pessoa, a tal garota atrevida SOU EU.


"I read somewhere... how important it is in life not necessarily to be strong... but to feel strong." - Alexander Supertramp (Chris McCandless)


"Eu li em algum lugar... como é importante na vida não necessariamente ser forte... mas se sentir forte."


Pra finalizar, vou pegar emprestado um texto da Tati Bernardi... me achei nessa definição.
   
"Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje. Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina… E vice versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar. Não me doo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil… e choro também!"

9 comentários:

  1. Ai...Clau...
    Mais um texto que me emocionou!!! Fiquei com lágrimas nos olhos ao te ver "ontem, hoje e sempre"... lembrar da casa na ponta da praia, dos teus pais, do meu pai...(tão parecido com o seu mas que se foi mais cedo e não consegui ter as "conversas que dão preguiça"...rsrsrs
    Faltou, pelo menos, um adjetivo prá vc: resiliente!!!
    Beijo grande, grande e ótimo weekend.
    Amo TODA sua família!!!!

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  2. Vc incomoda pq é única, pq tem esse jeito de falar o que pensa e mesmo assim ser doce, pq tem o queixo e a cabeça dura (rs), mas é justa e costuma ter razão(não é pra usar isso, certo? rs)e por ter um coração bonito e ser a mulher sensacional que é!
    Eu posso falar sem ser chamado de suspeito...eu sei!

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  3. PQP....que texto ILUMINADO!

    Vc deveria deixar de reprimir esse seu dom e, jogá-lo aos sete ventos;ou seja deveria investir mais nessas suas idéias e palavras tão Perfeitas!!!!!

    Clau,vc é mesmo super/mega/blaster no que FAZ...
    Tenho bastaaante ORGULHO de vc,minha irmã..

    Te amo...te amo...e,te amo muuuuito s2
    Bjsss

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  4. Pois é Baby você falou em queixo duro e eu que fiquei de queixo caído agora ao ler esse post,fácil identificar em tuas palavras uma mulher de atitudes e de fortaleza mas que como toda mulher tem sensibilidade suficiente pra escrever textos profundos e reveladores duela a quien duela como diria um ex-presidente...
    Acho que a maior prova de amor de um pai por um filho ou uma filha é a preocupação em deixar como herança alguém que além de lutar pelo sustento,pela família,pelos seus sonhos,enfim...também possua um caráter e um profundo senso de justiça!
    A julgar pelas impressões que tenho a teu respeito ele obteve sucesso pois provocou um diálogo com você que apesar de discussões e conversas intermináveis que como você mesma disse até davam preguiça acabou servindo e muito pra ajudar a construir tua personalidade e tua visão das coisas...
    Daí esse sentimento de fortaleza que você menciona a capacidade de levar porradas da vida e mesmo assim não se deixar ir a nocaute.
    E nem por isso pelo que conversamos perdeu teu jeito de menina e de mulher...
    Ter um pai assim é quase uma benção,veja a maioria dos pais de hoje estão pouco se importando com seus filhos e em educá-los pra que se transformem em pessoas com um mínimo de caráter,não santos nem anjos mas homens e mulheres que tenham algo a oferecer ao invés de viverem na eterna lei de Gérson onde o importante é levar vantagem em tudo!
    Forte como o próprio nome já indica é aquele que resiste que é duro como rocha ao mesmo tempo em que é suave como brisa!
    Sou fã do Che e essa frase dele é um chamamento a luta e ao contrário do que parece não é um chamado a luta armada mas um chamado a luta interna,aquela luta que se trava solitaria e silenciosamente,essa sim a luta decisiva pra cada indivíduo e suas aspirações de futuro...
    Há que ser forte mas flexível,duro porém sensível e vejo isso estampado no que você escreveu!
    Quando algúem se revela assim como você faz aqui sem medo e sem a preocupação de agradar ou desagradar quem quer que seja está dando um recado inquestionável de que sua personalidade e seus valores não são negociáveis,não estão a venda e isso é a verdadeira força...não abrir mão do que somos pra agradar ninguém...
    Ser forte é ser único cada um dentro de suas próprias características e realidades de vida!
    O que me agrada mais ainda é saber que você com certeza é uma dessas pessoas que pensa que ao invés de deixar um mundo melhor para os filhos a primeira preocupação deve ser a de deixar filhos melhores para o mundo que virá!
    Se todos os pais do mundo fossem como o teu com certeza a geração que queria um mundo melhor teria vencido,um mundo melhor não é aquele em que todos dizem amém a tudo e ficam reféns do que os outros pensam, como robôs,mundo melhor seria aquele que pudesse juntar caráter e contestação,rebeldia e liberdade!
    Beijo Claudia curto demais você e os textos que você escreve sempre com muita inteligência!

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  5. Repassei minha adolescência lendo tuas reflexões... quantas brigas pq a amiga podia voltar mais tarde... nossa, quanta coisa! O legal é sentir que os prncípios mostrados ficaram na alma da gente e isso ninguém nos tira.
    Abraço de urso! Te adoro!

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  6. Clau,

    À medida que fui lendo seu texto, fui me transportando para a minha infância...foi inevitável...uma "coisa" automática!
    Pensei também na Clau que eu infelizmente não conheci e nesta que hoje pude ter o grande prazer de ter em minha vida.
    Com base no seu relato, a visão que tenho sobre você só se reforçou! E não vou negar que isso tem sido feito a cada momento que compartilho algo com você. Pessoa muiiiiito especial...isso é o que vejo cada vez que falo seu nome, cada vez que te encontro, cada vez que lembro de vc, e agora ao ler o que vc escreve!
    Eu ia comentar o texto, mas só agora percebi que acabei deixando de fazer isso...e como não vou deletar o que fluiu tão espontâneamente, acrescento o seguinte: Feliz daquele que tira proveito das coisas da vida, que extrai aprendizado de cada acontecimento, seja ele bom ou ruim, feliz de quem tem o dom de partilhar isso e mais feliz ainda aquele que se sente da mesma "tribo". Jogo no seu time!!!
    Amo vc
    Beijo na alma

    Val

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  7. Oi Baby,

    Tenho acompanhado todos os textos e por diversas vezes a elogiei, mas vou fazer uma pausa desta vez, para me pôr de pé e aplaudir. Não pela qualidade da escrita ou pela clareza de pensamentos (acho que isso é ponto pacífico...rs!),mas pela coragem e como disse uma amiga sua aí em cima, pela RESILIÊNCIA!!!
    Ahhh....tenho que fazer um mea culpa e assumir que achei por alguns dias, que desta vez você se curvaria diante das dificuldades!!! E apesar de conhecer seu funcionamento e sua força, você mais uma vez conseguiu me surpreender!!!
    Escolhi vc como amiga por diversos motivos, mas meu maior motivo de admiração em particular, é que você pessoalmente é como um diamante bruto, só aceita que você mesmo o lapide, e essa força é que te torna única!!!!
    Acho que você andou angariando alguns fãs. Tem um amigo "anônimo" aí em cima, que tá bem derretido,hein? rsrsrsrs!!!
    A.D.O.R.O esse movimento (Ei "anônimo" entra na fila e pega a senha...e caso vc dê sorte...ENJOY!)
    Amo vc flor!!!
    Bjok's
    Rach

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  8. Hum verdade Raquel acho que derretido até demais...Não curto filas nem senhas e se duas pessoas tem mesmo há ver uma com a outra a fila ou a sorte ou a senha não fazem nenhuma diferença,se não tem há ver é por que uma das duas não quiz que tivesse!
    Sou fã e admirador da nossa Claudia pela sua inteligência e por ser uma mulher unica, exclusiva e por também ter me cativado, afinal esse é um jogo jogado a dois!
    Mas não gosto de pagar mico, se percebo que o jogo é só pra torcida,retiro meu time de campo!
    Por enquanto esse não é o caso...
    Independente de qualquer outra coisa eu a considero especial!
    Valeu!

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  9. BOA NOITE MENINA!

    NÃO VOU PUXAR TEU SACO NÃO.. MAS GOSTARIA DE LER CRONICAS SUAS DOS ASSUNTOS MAIS DIVERSOS POSSIVEIS; POIS COMO VOCÊ COMENTA ACIMA, MESMO EU SENDO (ESCORPIÃO)E ADORAR UM "DEBATE",TENHO QUE CONCORDAR COM SEUS TEXTOS RELACIONADOS A FAMILIA;E TER AS MESMAS OPINIÕES... RISOS.
    OLHA,TE FALO QUE A CADA DIA A EXIGENCIA VAI SER MAIOR,ATÉ PORQUE A PARTIR DE HOJE ESTAREI SEMPRE LENDO ESTA COLUNA ASSINADA POR VOCÊ.
    BEIJO, FICA COM DEUS E APARECE..
    ALÊ

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